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domingo, agosto 01, 2021

MERCADO DE REVÓLVERES E AFINS VIVE FORTE EXPANSÃO COM A ATUAÇÃO DE BOLSONARO PARA ARMAR A POPULAÇÃO



Mercado de revólveres e afins vive forte expansão com a atuação de Bolsonaro para armar a população


Ultimamente, os açougues andam produzindo fiéis retratos do Brasil. Em Cuiabá, a dramática cena de donas de casa formando fila para receber doações de osso com retalhos de carne expõe a luta pela sobrevivência de 19 milhões de famélicos, segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, realizado pela Rede Penssan. Nas principais capitais, a constante atualização de preços das carnes – que ficaram 38% mais caras em um ano, segundo o IPCA – é um sinal da galopante inflação que corrói o poder de compra das famílias. Já em Itapoã, região administrativa do Distrito Federal, o que chama a atenção é a propaganda de um atípico serviço no balcão de atendimento: porte de arma de fogo.


“Por 1,3 mil reais, eu consigo autorização da Polícia Federal em 20 dias para o porte de uma arma exclusivamente para defesa”, explica o prestador do serviço à reportagem de CartaCapital, que entrou em contato pelo número informado no anúncio. “Por 1,5 mil consigo o CAC no Exército, que dura três anos, mas esse demora uns dois meses, mas daí você já sai com o porte.” CAC é a sigla que designa os colecionadores, atiradores e caçadores, que graças a uma brecha na legislação jamais foram impedidos de manejar armas de fogo, mesmo após a aprovação do Estatuto do Desarmamento, em 2003. Com o ex-capitão Jair Bolsonaro no Planalto, esse grupo não parou de crescer. Eram 351 mil em 2018 e passaram de 561 mil no fim de 2020.


A despeito da crise, o mercado de armas não para de crescer no País. Somente no ano passado, os brasileiros gastaram mais de 29 milhões de dólares para importar revólveres e pistolas, revelam dados do Comex Stat, o banco de dados de comércio exterior do Ministério da Economia. O volume de importações cresceu mais de 3.400% nos últimos quatro anos. Antes vistas como um artefato de consumo restrito, as armas de fogo podem ser adquiridas em suaves prestações no cartão de crédito e sempre há alguém disposto a facilitar o acesso ao porte, como o despachante do açougue de Itapoã, que parcela os seus serviços em até cinco vezes sem juros. E por mais 200 reais o cliente ainda tem acesso a aulas de tiro, uma verdadeira pechincha.


Em 2020, os brasileiros gastaram 29 milhões de dólares com armas importadas, valor 3.412% superior ao de 2016


A desburocratização para se obter posse, porte e arma de fogo no Brasil, uma das principais bandeiras da campanha de Bolsonaro, é parte de um pacotão de 32 medidas que desfiguraram o Estatuto do Desarmamento, incluindo instruções normativas e decretos baixados pelo presidente nos últimos dois anos, segundo levantamento do Instituto Sou da Paz. As canetadas aumentaram em 65% a circulação de armas no Brasil em tempo recorde. Hoje, são mais 2 milhões de armas registradas para defesa pessoal e outras 360 mil públicas, de uso restrito das forças de segurança, registradas no Sigma e Sinarm, os sistemas de fiscalização do Exército e da Polícia Federal, respectivamente. Os dados são do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.


Salésio Nuhs, CEO global da Taurus (máscara cinza), presenteou o ex-capitão com um protótipo da pistola G3 em grafeno, uma das obsessões de Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018. A receita da fabricante brasileira cresceu 77,4% no ano passado, alcançando 1,77 bilhão de reais. (FOTO: Anderson Riedel/PR)


O avanço das armas – oh, surpresa! – coincidiu com o recorde de mortes violentas no Brasil. Foram 50 mil assassinatos em 2020, um aumento de 5% em plena pandemia, mesmo com todas as medidas de restrição à circulação de pessoas. Mas os programas policialescos da tevê aberta não parecem preocupados com o fenômeno. Pudera. A grande maioria das vítimas são jovens pobres e negros. Das 32 medidas que alteram o Estatuto do Desarmamento, 11 foram contestadas em decretos legislativos e ações judiciais, mas outras entraram em vigor, como a que autoriza a compra de até quatro armas por pessoa (antes eram duas), a que liberou a posse para moradores de áreas rurais e a que aumentou de 50 para 550 o limite por ano de munições.


“Tivemos um problema gravíssimo no ano passado, algo que ninguém esperava, a pandemia. Mas, aos poucos, vamos vencendo. Podem ter certeza, como chefe supremo das Forças Armadas, que jamais o meu exército irá às ruas para mantê-los dentro de casa”, declarou Bolsonaro no início do ano. Quando ele diz “meu exército”, é possível supor uma série de coisas, mas especialistas alertam para uma corrida armamentista por militantes da extrema direita, numerosos entre os CACs.